Há muito tempo atrás, os sinos de Ponte de Lima começaram a tocar a finados pela morte de um célebre escrivão.
Pelas reações da população que progressivamente ia recebendo a notícia, era claro que esta morte não era motivo de lamentado, pois o escrivão não era modelo de virtude ou honestidade tendo lesado muitas famílias. Sabia-se que o morto falsificava documentos e aceitava subornos que guardava numa arca escondida no sótão de sua casa.
Era do consenso geral que aquela alma não tinha salvação possível e duvidava-se que ele teria sequer direito a um enterro cristão. A polêmica começou quando os frades franciscanos do Convento de Santo Antônio se ofereceram para o sepultar, o que veio a acontecer. Nesse mesmo dia à meia-noite, os franciscanos foram acordados por três batidas na porta do convento. Do outro lado da porta, uma voz pedia-lhes para se reunirem na capela, pois queria falar-lhes.
Quando abriram a porta, um vulto imponente e de olhar penetrante entrou. Os frades assustados reparam que apesar de estar muito bem vestido tinha pés estranhos, iguais aos das cabras. O visitante dirigiu-se à capela onde estava sepultado o escrivão e parando à frente da sua sepultura, levantou a tampa do caixão, retirou o corpo amortalhado e fez com que este vomitasse a hóstia que tinha na boca.
Transformando-se num vulto negro e temível, elevou-se no ar com o corpo do defunto e saiu por uma janela com um grande estrondo.
A comunidade correu para o adro, ainda a tempo de ver os dois corpos unirem-se num só e voarem pelos céus com uma risada diabólica, deixando atrás de si um rasto de cheiro de queimado.
Adorei o conto.
ResponderExcluirPalmas!!