quinta-feira, 7 de março de 2013

Um Salto para trás, mas sem Olhar


Um homem que vivia na ilha de São Jorge dirigia-se para casa depois de um dia de trabalho, já ao anoitecer. Vinha cansado e com o carro de bois carregado de lenha para o forno, a chiar no silêncio da tarde. Vinha de longe e o caminho não era muito bom, por isso sentou-se à entrada de uma caverna para descansar e dar descanso aos bois. 

Para passar o tempo o homem começou a afiar uma madeira com a navalha, eventualmente a criar um brinquedo para o filho. Nestes tempos a navalha era para o agricultor um instrumento para toda a obra.

Esteva ele entretido, quando vinda não se sabe de onde apareceu uma galinha que começou a andar de um lado para o outro e a ciscar na terra, revirando tudo ao redor do homem, que começou a ficar incomodado com a poeira que a galinha levantava. Ela cacarejava com insistência. Apesar de o agricultor a enxotar, ela não saía do pé dele. Já farto, tentou espetar a galinha com a navalha. 

Quando picada, a galinha transformou-se imediatamente numa mulher jovem e bonita, completamente nua. O homem espantou-se, mas logo que recuperou a calma, o homem despiu o casaco que usava e colocou-o por cima da mulher, como forma de lhe tapar a nudez. A mulher então disse-lhe que era uma feiticeira que precisava de ser levada com urgência até à ilha do Pico. 

O agricultor tentou esquivar-se, dizendo-lhe não a podia levar, tinha a família em casa à sua espera e que além disso não tinha barco nem era homem do mar. Mas a feiticeira tanto insistiu que o homem a atendeu. Ela pediu que ele a pegasse ao colo e desse um passo para trás, mas sem olhar. Apesar de estar assustado, queria ver-se livre da mulher, e assim fez. 

Mal deu o passo para trás e olhou em à volta, estavam no Pico. Aterrorizado e sem saber o que fazer, apenas perguntou "E agora? Como volto para São Jorge?" Agradecida com o ato dele, a feiticeira retirou um bocado de pano de sua casa e disse que ele o segurasse e desse novamente um passo para trás, novamente sem olhar. Ele assim fez. Logo se encontrou novamente na sua ilha, junto do carro de bois que continuavam e serenos como se nada se tivesse passado. Era como se esta viagem de ir e vir ao Pico tivesse acontecido num tempo que não correspondia ao tempo normal. 

Assim que recuperou-se do acontecido, voltou imediatamente para o caminho de casa, esquecendo-se no entanto de jogar fora o pano que a feiticeira lhe tinha dado. Quando chegou a casa, a mulher começou a perguntar onde ele o tinha conseguido aquele pano e quem o tinha oferecido. Com medo de falar da feiticeira, o homem não quis contar o tinha acontecido à mulher. Isto levou a grandes desconfianças e ciúmes por parte da esposa, e que acreditando que ele tinha uma amante,divorciou-se  algum tempo depois. 
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