segunda-feira, 16 de março de 2015

A Impostora dos Coelhos

No dia 27 de setembro de 1726, a jovem Mary Toft, de 25 anos, entrou em trabalho de parto. A moça, que trabalhava nos campos de lúpulo da Inglaterra, pediu ajuda de uma vizinha, Mary Gill, para dar à luz. A vizinha foi bastante solícita e correu para poder ajudar à jovem que gritava de dor. Depois de algum sofrimento veio a terrível constatação: Mary Toft tinha parido um monstro.

Extremamente horrorizada com a situação, Gill correu para encontrar a cunhada de Toft, que era parteira, e relatar o que havia ocorrido – o “bebê” que havia vindo ao mundo parecia mais uma mistura de partes de animais putrefatos. Prontamente, a família da mãe encaminhou os restos para um médico local.

Ao analisar o material, John Howard, profissional que realizava partos há 30 anos, afirmou que aquilo se parecia com três patas de gato, uma perna de coelho e três pedaços de enguia. Pois é. Apesar de tamanha bizarrice, isso não impediu que o especialista continuasse visitando sua paciente para verificar seu estado. Até o dia em que Toft deu à luz novamente na frente do médico, dessa vez, era um coelho.


Em pouco tempo a notícia se espalhou e Mary Toft se tornou uma celebridade. Durante o mês seguinte, Howard testemunhou sua paciente dar à luz mais oito coelhos. Buscando entender o fenômeno, o médico enviou cartas para renomados profissionais em toda a Inglaterra contando sobre o mistério.

Um dos médicos a receber a carta de Howard foi Nathaniel St. André, cirurgião do rei George I. Intrigado com o que ouviu sobre o caso, o rei enviou seu médico para que investigasse a história. Não foi preciso de muito tempo para que St. André acreditasse nos boatos, afinal ele era conhecido por não seguir parâmetros científicos.

Sendo assim, o cirurgião visitou Mary, analisou sua barriga e deduziu que os coelhos estavam se formando na sua trompa de Falópio direita. Seu diagnóstico ficou confirmado quando ele viu com seus próprios olhos à mulher dar à luz o 15º coelho.


As notícias sobre o nascimento dos coelhos impressionavam tanto as pessoas que Mary Toft conseguiu virar manchete de jornal e ainda afetar o comércio local. No dia 19 de novembro, o Weekly Journal divulgou o caso e, na mesma época, os comerciantes que vendiam carne de coelho não conseguiam mais lucrar porque as pessoas desenvolveram um nojo extremo do animal.

A essa altura, a população e os médicos começaram a acreditar que se tratava de um caso de “impressão maternal”, uma teoria pseudocientífica bastante popular que circulava na época. Ela acreditava que as emoções e a imaginação da mãe podiam causar defeitos e doenças no parto. Uma mulher que se assustasse com um coelho, como Mary relatava que tinha ocorrido com ela, poderia facilmente transformar o feto com seus pensamentos e, assim, dar à luz coelhos. (Por mais incrível que pareça, essa teoria continuou fazendo algum sucesso até o início do século 20.)

Ainda incerto quanto à situação, o rei George resolveu mandar mais um de seus profissionais, o cirurgião Cyriacus Ahlers, para checar novamente. Porém, o médico não acreditava na teoria da impressão maternal e não se deixou levar pelos boatos que corriam entre a população. Mesmo vendo a mulher parir mais alguns coelhos, Ahlers se manteve cético.

No dia 29 de novembro de 1726, Mary Toft é levada contra a sua vontade para Londres para ser analisada. Ela foi trancada em um banheiro e ficou sob intensa observação. Curiosamente, a paciente parou de dar à luz os coelhos. Na verdade, ela ficou bastante mal, teve febres altas e chegou a perder a consciência algumas vezes.

Enquanto tudo isso acontecia do lado de fora, Ahlers resolveu dissecar alguns dos coelhos em seu laboratório. O mais estranho é que ele percebeu que os coelhos haviam sido golpeados com uma faca e um deles tinha vestígios de feno e milho.


No dia 4 de dezembro a farsa foi desvendada. Um dos porteiros foi pego colocando um filhote de coelho dentro da sala onde Mary estava trancada. Ele afirmou que a paciente o havia subornado. Outra investigação também revelou que o marido de Toft havia comprado um número suspeito de coelhos nos últimos tempos.

Três dias depois, quando a corte ameaçou executar um procedimento cirúrgico experimental e doloroso para verificar de perto o que havia de tão especial no corpo de Mary, ela confessou. Junto com a farsa da mulher, caiu a reputação de vários médicos que acreditaram no caso, incluindo Nathaniel St. André, que havia acabado de publicar um livreto contando a incrível história.

A verdade é que Mary Toft havia engravidado pouco tempo antes do escândalo, mas ela perdeu o bebê. Aproveitando que sua cérvix ainda estava dilatada, ela introduziu o corpo de um gato e a cabeça de um coelho no útero, que foi o que sua vizinha a ajudou a parir.

Como o caso começou a fazer sucesso, Mary costurou bolsos em sua saia e passou a manter partes de coelhos consigo. Quando os médicos não estavam olhando, ela colocava os pedaços para dentro e fingia um parto. Logicamente, esse tipo de atitude teria algum efeito colateral, que provavelmente se manifestou através das altas febres que a paciente teve quando chegou a Londres.


O mais impressionante é que a mulher confessou que fez tudo isso porque queria sair da pobreza. Em uma época em que os circos de horrores eram conhecidos por abrir espaço para aberrações humanas, Toft acreditou que haveria uma oportunidade para que pudesse ganhar dinheiro dando à luz coelhos.

Mas o que Mary não esperava era que sua farsa iria por água abaixo. A jovem acabou tendo que cumprir uma pena de cinco meses sob acusação de fraude. Depois de sair da prisão, ela voltou a viver na pobreza e, quando morreu em 1763, ficou conhecida como “a impostora de coelhos”.

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