sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Tarrare e Sua Fome Insaciável


Tarrare (ou Tarare), foi um soldado e artista francês, conhecido por seu hábitos alimentares incomuns. Ele nasceu em uma região rural da França, próximo à Lyon, por volta de 1772, sua data de nascimento não é registrada e não se sabe se Tarrare é seu verdadeiro nome ou apelido.

Quando criança, Tarrare tinha enorme apetite, e já na adolescência, poderia comer um quarto de boi, pesando o mesmo que seu peso em um único dia. Tendo a capacidade de comer grandes quantidades de comida, ele estava constantemente faminto. À esta época, seus pais não tinham condições de sustentá-lo, assim o forçaram a sair de casa. Viajou a Franca na companhia de uma gangue de ladrões e prostitutas, sendo um aquecimento para se tornar um charlatão viajante; ele engolia rolhas, pedras, animais vivos e uma cesta cheia de maçãs. Em 1788 foi, então, para Paris onde trabalhou como um artista de rua. Comia vorazmente, tendo uma particular predileção por carne de cobras. Sendo bem sucedido na maioria das vezes, em uma singular ocasião, sofreu de uma severa obstrução intestinal, quando alguns expectadores o levaram para o hospital Hôtel-Dieu. Onde foi tratado com fortes laxantes. Ainda no hospital, após estar recuperado, Tarrare ofereceu demonstrar suas habilidades comendo o relógio e sua corrente do cirurgião M. Giraud o qual não ficou impressionado e disse que caso o fizesse, ele o abriria para recuperar seus bens.

Ao início da Primeira Coligação, Tarrare entrou para o exército revolucionário francês, Como as rações militares eram incapazes de saciar seu grande apetite, ele comia qualquer coisa que encontrasse em calhas e latas de montes de lixo, porém sua condição continuava se deteriorando pela fome. Sofrendo de exaustão, ele foi hospitalizado e se tornou objeto de estudos e experimentos médicos para testar sua capacidade de comer, nos quais, entre outras coisas, Tarrare comeu uma refeição que serviria 15 pessoas de uma só vez, gatos vivos, cobras, lagartos e filhotes de cães e até mesmo uma enguia inteira sem sequer mastigar. O General Alexandre de Beauharnais decidiu utilizar as habilidades de Terrare, então ele foi empregado como mensageiro pelo exército francês, com a intenção de que ele poderia engolir documentos, passar através de linhas inimigas e recuperá-los uma vez que a salvo em seu destino. Infelizmente, Tarrere não falava alemão, em sua primeira missão foi capturado pelo exército da Prússia, severamente torturado e submetido a uma execução simulada antes de retornar às forças francesas. 

Castigado pelas experiências, ele concordou em se submeter a diversos procedimentos que poderiam curar seu apetite, sendo tratado com láudano, pílulas de tabaco, vinagre de vinho e ovos levemente cozidos. Os procedimentos falharam e os médicos não conseguiram mantê-lo em uma dieta controlada; ele vasculhava o hospital por alimentos em calhas e amontoados de lixo e próximo a açougues e chegou a tentar beber o sangue de outros pacientes no hospital e comer corpos no necrotério. Após se tornar suspeito de comer uma criança, foi expulso do hospital. Reapareceu anos mais tarde  em Versailles, pois acreditava que um garfo de ouro, que engolira dois anos antes, ainda estava dentro dele e seria a causa de sua indisposição fraqueza atual. No entanto ele foi diagnosticado como sofrendo de uma severa tuberculose, morrendo pouco tempo depois tendo sofrido de uma diarreia exsudativa.


Apesar da dieta incomum, Tarrare era magro e de estrutura média; aos 17 anos, pesava apenas 45kg. Ele foi descrito como tendo cabelos claros excepcionalmente suaves, e uma boca anormalmente grande em que os dentes eram muito manchados e os lábios quase invisíveis. Quando não comia, sua pele ficava tão solta que ele poderia puxá-la do abdômen e evolvê-la ao redor de sua cintura. E quando cheio, seu abdômen distendia-se como um “enorme balão”. A pele de suas bochechas era enrugada e caída e quando esticada, ele poderia segurar uma dúzia de ovos ou maçãs em sua boca. Seu corpo era quente ao toque e ele suava muito e constantemente, sofrendo de forte odor corporal. Era descrito como mau-cheiroso “a ponto de não ser suportado sem uma distância de vinte passos”. Tal cheiro era ainda mais notado após as refeições, quando seus olhos e bochechas tomavam coloração avermelhada e um vapor visível surgia de seu corpo, ele se tornava letárgico e durante esse momento ele arrotava sonoramente e suas mandíbulas continuavam fazendo movimentos de deglutição. Sofria de diarreia crônica a qual é descrita como “fétida além de qualquer concepção”. Apesar da enorme ingestão de alimentos, não apresentava vômitos ou ganho de peso e não apresentava sinais de doenças mentais ou comportamentos incomuns a não ser um temperamento apático com uma “completa falta de força e ideias”.

As causas do comportamento de Tarrare não é conhecida. Mesmo havendo outros casos similares ao de Tarrare no mesmo período, nenhum dos indivíduos foi submetido a autópsias, e não há registros de casos recentes como o de Tarrare.

Hipertiroidismo pode causar um aumento de apetite e perda rápida de peso, enquanto Bondenson (2006) especula que Tarrare pode ter sofrido danos na amígdala, pois sabe-se que este tipo de lesão em animais pode causar polifagia.

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