sábado, 30 de março de 2013

A Procissão das Almas

A lenda conta que existia uma senhora chamada Maricota de Todos os Santos, muito maledicente, que vivia na janela de sua casa vigiando a vida alheia. Depois de aprontar muita confusão no bairro São Gonçalo, mudou-se para a Rua Dom Silvério, e receosa de ser novamente expulsa, só vigiava a rua depois que o sino da Casa da Câmara tocava às 21:00h, mandando que todos se recolhessem em suas casas. 

Com calos nos cotovelos de ficar debruçada na janela, ficava ela observando quem ia e quem vinha. Até que em uma tarde de sexta-feira santa, ela que sempre foi muito religiosa, viu se aproximar uma procissão. Ela não conseguia identificar ninguém, logo estranhou, pois sabia que não haveria procissão naquele dia, pois ela sempre ia à igreja, e mesmo assim quando havia alguma procissão era comum a igreja tocar os sinos no inicio, mas nada disso foi feito.

Resolveu então ficar na janela pra ver quem estava na tal procissão. Até que conseguiu ver de perto: eles usavam roupas pretas, todos com uma vela na mão, e o primeiro da fila segurava uma enorme cruz preta. 

Além dos trajes, ela escutava um som pausado de bumbo, bem fúnebre, uma matraca, gemidos, gritos lancinantes e os cantos: “Reza mais, reza mais, reza mais uma oração; Reza mais, reza mais pra alma que morreu sem confissão” e “Reza mais, reza mais, reza novena e trezena; Reza mais, reza mais pra alma que morreu sem cumprir pena”.

Um pouco assustada com a estranheza da procissão, ela continuou na janela a observar, e a procissão foi passando, até que uma das pessoas que estava participando parou na janela da velha senhora e lhe entregou uma vela, disse-a que guardasse aquela vela, e que no outro dia ela voltaria para pegá-la. E se juntou aos outros. 

Com a procissão chegando ao fim a senhora resolveu dormir, e apagou a vela e guardou-a. No outro dia, quando a procissão voltou, o participante pediu a vela a velha senhora, e ao entrar em seu quarto, a velha foi ver se a vela estava no local onde ela guardou, porém para sua surpresa no local em que deveria estar a vela estava um pedaço de um osso da perna de um defunto.

Algumas versões dizem que a velha senhora passa mal e morre logo depois mesmo sendo socorrida pelo padre e por um médico. 

Outras versões dizem que horrorizada, a velha senhora e rezou o credo com devoção e fervor, repetindo esse procedimento algumas vezes durante o dia. E então, pouco antes da meia-noite, ela, trêmula de medo, devolveu o osso e duas velas bentas à figura embuçada que lhe apareceu diante da janela, recebendo da mesma a seguinte recomendação: ”Que isto te sirva de lição, pois a Procissão das Almas não é para ser vista pelos viventes”.

Dizem que a Procissão das Almas, em Mariana, é baseada nessa lenda. O cortejo da Procissão das Almas em Mariana-MG, única no Brasil, acontece depois da meia noite para evitar confusões com a Igreja. As roupas usadas na procissão são brancas por que quando a procissão foi reativada, a luz era fraca e o farol dos carros também  Desde 1850 ela acontece na noite de sexta da paixão, mais exatamente às 00h05 do sábado de aleluia, pelas ruas do centro histórico da cidade.

Um comentário:

  1. Muito boa a postagem, teve a história no começo e uma explicação sobre ela no final. É bom conhecer este tipo de procissão e saber que exitem lugares no Brasil que ainda seguem elas.

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