quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Rabdomancia

As varinhas mágicas, nos contos de fadas, servem para transformar abóboras em carruagens e vestir de seda princesas andrajosas. Na vida real também existem varinhas que parecem mágicas em si. Não servem para criar tesouros do nada, mas podem ao menos servir para mostrar onde eles se encontram. 

Lençóis d'água subterrâneos, reservas de petróleo, cavernas, túneis secretos, túmulos antigos, sítios arqueológicos ou simples objetos perdidos já foram localizados pela varinha, que pode ser um galho de árvore -em geral, da aveleira- bifurcado na extremidade, um chifre de animal ou um pedaço de metal ou arame em forma de V. Esta arte de adivinhar com a varinha chama-se rabdomancia, e é tão velha quanto o Homem, embora até hoje não se tenha conseguido explicá-la. Em 1954, depois de um período em que cientistas do mundo inteiro se empenhavam intensamente nas pesquisas destinadas a identificar as leis que regem o fenômeno da varinha, a Academia Real de Ciências da Holanda concluiu pela inexistência do fenômeno, declarando não significativos as centenas de exemplos de adivinhação por meio da vibração da varinha. Esse veredito pesou muito e nos vinte anos seguintes os cientistas quase não ousavam falar em pesquisas sobre rabdomancia. Mas o fenômeno continuou sendo registrado pelo mundo, e aos poucos tornou a despertar a atenção dos estudiosos, inclusive dos holandeses. 

Um desses holandeses, o geofísico Solco Tromp, autor de Psychical Physics, grande estudioso da abdomancia acha que o fenômeno é de tipo fisiológico, causado por um efeito magnético. Outros pesquisadores consideram a rabdomancia uma manifestação de percepção extra-sensorial. Qualquer das duas linhas de pensamento, porém, concorda em que o movimento da varinha propriamente dito é provocado por uma contração muscular inconsciente. Assim como a caneta ou lápis registram os pensamentos conscientes do cérebro por meio de curtos e voluntários movimentos musculares, a varinha registra pensamentos inconscientes por meio de contrações involuntária dos músculos. A dúvida está apenas em saber se esses pensamentos inconscientes estão ligados a células, neurônios e fenômenos eletromagnéticos ou a poderes paranormais transcendentais. 

Mas a falta de uma definição precisa sobre o que vem a ser a rabdomancia não impede a multiplicação de casos. O inglês Robert Leftwich, famoso rabdomante, afirma que suas habilidades se desenvolvem mais e mais com o passar do tempo - o que, parece, é uma característica geral de todos os que fazem adivinhações com a varinha. Leftwich possui vários poderes paranormais e conta que faz uso deles desde menino. Em sua época de escola, decorava sempre apenas uma pequena parte da lição ou algumas linhas de um poema, e conseguia — sem saber como — fazer que a professora lhe perguntasse exatamente o que aprendera. A arte da rabdomancia, ele adquiriu por acaso e já localizou túneis abandonados, mananciais de água e milhares de objetos.

A rabdomancia é muito aplicada em tempo de guerra. Louis Matacia, agrimensor de profissão e rabdomante por dote, trabalhava na Marinha norte-americana quando Robert MacNamara, então secretário da Defesa, pediu sugestões militares para impedir a expansão territorial dos vietcongs, que avançavam por túneis subterraneos sobre o Vietnã do Sul. Matacia sugeriu usar a varinha para localizar os túneis. A proposta, embora encarada com ceticismo pelas autoridades militares, foi testada num vilarejo do Sudeste asiático, cheio de túneis, trincheiras e armadilhas subterrâneos. Em menos de uma hora, Matacia localizou vários desses "acidentes geográficos". Depois, ele repetiu o feito com mapas, e não mais no local. Muitos rabdomantes têm essa habilidade de localização em mapas por meio da varinha. Mas, apesar das demonstrações de Matacia, a Marinha não aceitou a rabdomancia como método oficial de combate ao inimigo. 

Extra-oficialmente, porém, a técnica foi bastante utilizada. A 19 de janeiro de 1974, o capitão Vo-Sum, da Marinha sul-vietnamita, encarregado das comunicações durante a batalha com as forças navais chinesas nas ilhas Paracel, perdeu contato com o navio-escolta, chamado Nhat-Tao HQ 10. O capitão escreveu este nome num pedaço de papel e, colocando a varinha sobre ele, conseguiu localizar a posição do navio, que caminhava na direção sul-sudoeste. O Nhat-Tao HQ 10 estava avariado e perdera o rumo, segundo as conclusões de Vo-Sum. Prosseguindo com suas adivinhações por meio da varinha, foi transmitindo as coordenadas da direção tomada pelo navio perdido à patrulha de salvamento, que dois dias depois encontrou os tripulantes do HQ 10, que afundara, em barcos salva-vidas, exatamente no local indicado por Vo-Sum. 

No livro Psychic Discoveries Behind the Iron Curtain, Sheila Ostrander e Lynn Schroeder afirmam que quase tudo o que se quer achar pode ser achado pela varinha rabdomante.

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